Um jovem de 21 anos foi atendido na UPA com suspeita de intoxicação. O caso reacende o alerta para o metanol, um veneno industrial que pode causar cegueira ou morte em pequenas doses. O Ministério da Saúde já registra 43 casos suspeitos no país.
Mato Grosso do Sul investiga a primeira morte suspeita por metanol de um jovem de 21 anos, que foi atendido na UPA. No Brasil, o Ministério da Saúde registra 43 casos suspeitos, sendo 39 em São Paulo (dez confirmados) e quatro em Pernambuco. Há ainda uma morte confirmada e sete óbitos suspeitos no cenário nacional.
O caso reacende o alerta para um veneno silencioso: o metanol. Diferente do álcool comum presente nas bebidas (etanol), essa substância industrial é extremamente perigosa e pode matar em pequenas doses.
Diferença e Reação no Organismo
De acordo com a gastroenterologista Luciane França Ramos, do Humap-UFMS, o metanol é um álcool amplamente utilizado na indústria química. “É matéria-prima de solventes, combustíveis, tintas, adesivos, compensados, pesticidas e vários outros produtos do dia a dia, mas não tem qualquer uso seguro para consumo humano”, afirma. O metanol é obtido a partir de carvão, gás natural e biomassa.
Quando ingerido, o metanol é rapidamente absorvido e metabolizado pelo fígado em formaldeído e ácido fórmico, compostos altamente tóxicos. “Essas substâncias danificam os olhos, o sistema nervoso central, o coração, os rins, os pulmões e o próprio fígado”, explica a especialista.
Sintomas e Tratamento
Os sinais de intoxicação aparecem conforme os órgãos são afetados. Entre eles estão náusea, vômito, dor abdominal, distúrbios visuais e tontura. “Podem evoluir para cegueira, agitação, torpor, coma, insuficiências renal e circulatória até o óbito”, detalha a médica. A Nota Técnica Conjunta do Ministério da Saúde aponta um período de latência de 12 a 24 horas até o início dos sintomas graves. Luciane Ramos enfatiza que não existe dose segura de ingestão de metanol.
O antídoto específico é o fomepizol, mas ele não está disponível para compra no Brasil. A Anvisa vem agilizando a importação. Até lá, o essencial é levar a vítima ao pronto-atendimento. Já a Nota Técnica nº 360/2025 do Ministério da Saúde orienta os serviços de saúde a utilizarem etanol como antídoto disponível, além de adotarem medidas clínicas de suporte.
Cuidados e Prevenção
Para Luciane, a principal causa dessas tragédias está ligada às bebidas destiladas adulteradas. “A falsificação de bebidas gera lucro, mas aumenta o risco de intoxicação. A falta de fiscalização adequada e a desinformação colaboram para que isso aconteça”, afirma.
A médica reforça que evitar o consumo é a medida mais segura. Em caso de ingestão, é fundamental:
- Avaliar a procedência da bebida.
- Buscar atendimento médico imediato.
- Se possível, guardar amostra do líquido ingerido para análise.
O Ministério da Saúde também recomenda que consumidores não comprem bebidas sem rótulo ou lacre, nem de preço muito baixo. O metanol, por fim, é incolor, tem cheiro parecido com o álcool comum e não pode ser identificado a olho nu.


