Um estudo de pesquisadores do Brasil, Inglaterra e Estados Unidos revela que 284 mil menores perderam cuidadores entre 2020 e 2021. Mato Grosso do Sul teve a terceira maior taxa de orfandade do país, com 3,8 crianças órfãs a cada mil habitantes.
Além das mais de 700 mil mortes diretas causadas pela covid-19 no Brasil, a pandemia deixou um rastro silencioso de sofrimento: 284 mil crianças e adolescentes perderam pais, avós ou outros cuidadores entre 2020 e 2021. O levantamento mostra que Mato Grosso do Sul teve uma das maiores taxas de orfandade do país, com 3,8 crianças órfãs a cada mil habitantes. O estado ficou atrás apenas de Mato Grosso e Rondônia.
A pesquisa, divulgada neste mês, estimou que 1,3 milhão de menores de 0 a 17 anos perdeu ao menos um cuidador por diferentes razões durante a pandemia. Desses, 284 mil ficaram órfãos em decorrência direta da covid-19.
Lorena Barberia, professora da USP e uma das autoras do estudo, explicou a importância de olhar para a vulnerabilidade. “Muitos idosos exerciam papel central na estrutura familiar, e inúmeras crianças e adolescentes dependiam deles. Era importante estimar não apenas a perda de pais e mães, mas também desses cuidadores.”
Disparidades Regionais e Políticas Públicas
Os dados mostram grandes disparidades regionais. Enquanto estados como Santa Catarina e Pará registraram índices mais baixos, regiões do Centro-Oeste e Norte concentraram os maiores casos proporcionais.
A desigualdade também se refletiu no perfil socioeconômico das famílias atingidas: a maioria dos órfãos era filha de trabalhadores de limpeza, transporte, alimentação e do setor informal. Esses grupos, por sua vez, ficaram mais expostos ao vírus.
Segundo a promotora Andréa Santos Souza, coautora do estudo, a dificuldade financeira é o principal impacto imediato da orfandade. Além da perda, muitas crianças e adolescentes foram expostas a violações de direitos, como adoções ilegais, trabalho infantil e exploração sexual.
Mesmo após o fim da pandemia, as pesquisadoras alertam para a necessidade de políticas públicas específicas para os órfãos da covid-19. “Essas crianças não desapareceram quando a pandemia acabou. Elas continuam precisando de apoio social e psicológico. É um novo grupo vulnerável que o Brasil precisa enxergar”, reforça Lorena Barberia.


