Inspirado em proposta mineira, João Henrique ignora crise na saúde e foca em pauta fantasiosa que não tem registro no Estado
Enquanto milhares de pacientes aguardam por atendimento psiquiátrico em Mato Grosso do Sul, o deputado estadual João Henrique (PL) optou por desviar o foco da crise na saúde pública e apresentou o Projeto de Lei 125/2025. A proposta proíbe o uso de qualquer recurso público no atendimento a bonecas reborn — bonecos hiper-realistas que imitam bebês e viralizaram nas redes sociais nas últimas semanas.
O texto, protocolado na quarta-feira (15), é uma cópia quase literal de um projeto mineiro apresentado por Cristiano Caporezzo (PL-MG). Essa mesma proposta já foi levada à Câmara Federal pelo deputado Zacharias Calil (União-GO), sem qualquer comprovação de que esse tipo de atendimento ocorra no SUS.
João Henrique justifica o projeto com base em um vídeo do TikTok, supostamente gravado fora do Estado, e argumenta que “o SUS existe para atender vidas humanas”. Ele classifica como “absurdo” qualquer atendimento a objetos inanimados e afirma que a medida busca reforçar critérios e acolhimento adequado em casos de saúde mental.
O texto proíbe o uso de filas preferenciais, estacionamentos e qualquer benefício público relacionado a vínculos simbólicos com bonecas reborn. A proposta ainda prevê o encaminhamento compulsório de pessoas que apresentarem essas bonecas ao SUS para programas de saúde mental, sem, no entanto, apresentar dados concretos ou exemplos práticos de aplicação.
Apesar disso, o projeto não menciona o uso terapêutico das reborn por mulheres em luto perinatal, nem reconhece a relação simbólica que muitas pessoas mantêm com os bonecos. Em vez de acolher, o projeto trata essas situações como distúrbios mentais e adota uma postura punitivista.
Enquanto isso, só em Campo Grande, mais de 4 mil adultos e mil crianças esperavam por consulta psiquiátrica no início do ano. Ao invés de priorizar pautas urgentes, a Assembleia Legislativa discute um projeto que ignora a realidade local e surfa na polêmica gerada por uma moda passageira.