Decisão afeta empresários e passageiros e pode triplicar o tempo de viagem entre as duas capitais do agronegócio.
A Azul Linhas Aéreas vai suspender, a partir de 1º de julho, o único voo direto entre Campo Grande (MS) e Cuiabá (MT). O anúncio foi feito em meio ao processo de recuperação judicial da companhia nos Estados Unidos. A decisão impacta diretamente os passageiros que dependem dessa conexão rápida entre os dois estados, especialmente empresários do agronegócio.
Com o corte da rota, a viagem, que atualmente dura cerca de 55 minutos, passará a exigir conexões em cidades como São Paulo, Curitiba ou Brasília. Assim, o tempo total de deslocamento pode ultrapassar três horas, dificultando ainda mais a logística na região Centro-Oeste, que já enfrenta uma malha aérea limitada.
Para muitos empresários, a medida é incompreensível. O voo da Azul entre as duas capitais costuma operar com alta taxa de ocupação e atende uma demanda constante, mesmo fora das altas temporadas. A suspensão, portanto, levanta questionamentos sobre a lógica dos cortes feitos pela companhia, já que o trecho aparentemente dava lucro.
Além disso, a decisão vai na contramão do crescimento econômico de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Segundo dados do Banco do Brasil, o PIB de Mato Grosso do Sul deve subir 4,7% em 2025, enquanto o de Mato Grosso tem previsão de alta de 5,8%. Esses números contrastam com a média nacional, projetada em 2,13% pelo Banco Central.
Mesmo diante desse cenário positivo, a Azul alegou que a suspensão faz parte de ajustes de mercado, visando equilíbrio entre oferta e demanda. A empresa manterá a rota entre Campo Grande e o Aeroporto de Viracopos (SP), oferecendo conexões para outros destinos nacionais e internacionais.
Em nota, a companhia informou que os passageiros afetados receberão assistência conforme a Resolução 400 da Anac. Porém, não explicou os motivos específicos para a suspensão e nem detalhou se há planos para retomar a rota no futuro.
A Gol não se manifestou sobre a possibilidade de assumir o trecho. Já a Latam afirmou que “estuda oportunidades”, sem dar previsão para novos voos. Com a saída da Azul, o mercado pode se abrir para novas concorrentes ou até para o retorno de empresas como Avianca, que já operaram a ligação no passado.
Durante o primeiro quadrimestre de 2025, foram realizados 118 voos da Azul de Campo Grande para Cuiabá e 119 no sentido inverso. Apenas em abril, houve 39 voos em cada trecho, o que reforça a incoerência da suspensão, segundo especialistas.
Nos bastidores, empresários criticaram a ausência de reação por parte da classe política sul-mato-grossense. Alguns destacaram que, se o corte fosse na rota para Brasília, a mobilização seria imediata. Por enquanto, quem arca com o prejuízo é o cidadão comum — que, muitas vezes, precisa permanecer mais de 30 horas fora para resolver um assunto de menos de uma hora.
Caso as companhias não reponham a rota, restarão alternativas menos práticas e mais caras, como ônibus, carro próprio ou até avião particular, inviável para a maioria.